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4 representações de pessoas gordas na mídia que precisam desaparecer


É por meio da mídia que temos contato com diferentes formas de enxergar o “outro”. E quando ela falha em representar alguém adequadamente, todos saímos perdendo

No final de semana passado, Anitta se apresentou no “Criança Esperança”, da Rede Globo, cantando “Perigosa”, famoso hit do grupo As Frenéticas, e “Show das Poderosas”, uma de suas músicas de maior sucesso. Mas o que chamou mesmo a atenção na sua performance foi a escolha de dançarinas gordas para acompanhá-la, ao invés dos bailarinos magros que são a escolha de qualquer cantor pop atual. Juntas, todas arrasaram e mostraram que gordos podem fazer o que quiserem.

Infelizmente, esse é um dos raros casos em que esses indivíduos aparecem sem objetificação ou ridicularização, afinal, a mídia falha muito na representação dessas pessoas (ou de qualquer minoria, né?).

Porém, sempre é possível fazer diferente, então vamos dar uma força e mostrar cinco representações de pessoas gordas que precisam sumir da mídia:

Gordos são preguiçosos

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Essa mulher correndo na capa da Women’s Running parece cansada para você? Pois é, para mim também não. O nome dela é Erica Jean Schenk, primeira modelo gorda a estampar uma das maiores revistas fitness dos Estados Unidos. Ah, e caso você esteja se perguntando, a corrida faz parte de sua rotina, além da caminhada, a natação e vôlei de praia. Ou seja, a escolha de Erica para a capa não foi à toa.

“Há um estereótipo de que todos os corredores são pessoas magras, mas isso não é verdade”, comentou a editora chefe da Women’s Running ao Today.com. “Acho que toda mulher não se vê nas capas das revistas que estão nas bancas. Queríamos que nossas leitoras sentissem como se pudessem se enxergar na nossa capa.”

A verdade é que não dá para dizer se uma pessoa é saudável só de olhar para ela. Isso porque há muitos fatores que envolvem o ganho – ou não – de peso, como a genética de cada um, os hábitos alimentares e o estresse, por exemplo. Portanto, afirmar que alguém não é saudável somente porque ela é gorda é um erro; e retratar essas pessoas como indispostas e que só pensam em comer é um desserviço que a mídia faz, pois continua perpetuando um estigma que fortalece a discriminação contra essas pessoas.

Gordos são feios

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Estamos em uma época em que vemos mais e mais campanhas, inclusivas de beleza e moda, que vêm com um discurso de que cada um é belo do seu jeito e que incentivam o amor pelo seu próprio corpo. Essa é uma mensagem importante, especialmente para as meninas, muito mais cobradas para ficarem magras e atingirem padrões estéticos muito prejudiciais ao corpo e à mente.

Tess Holliday, a modelo da foto acima, não só mostra que mulheres gordas podem fazer campanhas publicitárias, como também milita pela ampliação do conceito de beleza. “Não há uma só maneira de ser uma mulher bonita. Nós todos merecemos um lugar”, ela disse ao Daily Mail no ano passado. E está certíssima.

Contudo, por mais que os tempos estejam mudando, ainda é muito difícil ver pessoas gordas nas capas de revistas, por exemplo. Quando o são, são em edições especiais (e essas pessoas existem durante o ano todo, não só uma vez por ano). Tampouco as vemos protagonizando filmes, séries e novelas.

A mídia, segundo um estudo do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, pode influenciar na satisfação corporal dos indivíduos. Portanto, quando não vemos pessoas gordas em lugar algum, ou ridicularizadas, ao mesmo tempo em que corpo magro é exaltado, isso colabora para que as pessoas odeiem seus próprios corpos e recorram a dietas perigosas ou que desenvolvam um distúrbio alimentar somente para agradar uma expectativa de beleza que elas nunca quiseram, mas que foi imposta. Isso precisa ter fim.

Gordos são sempre os melhores amigos e engraçados

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Dakota Johnson e Rebel Williams em “Como Ser Solteira”

Um estereótipo persistente na cultura pop é do gordo melhor amigo e que é engraçado, sempre com uma frase hilária para fazer com que a audiência caia no riso. Eles estão ali somente para servir de alívio cômico para a história, dar apoio ao protagonista, mas nunca têm suas tramas desenvolvidas. Um exemplo é o filme “Como Ser Solteira”, protagonizado por Dakota Johnson e Rebel Williams, que vivem duas amigas solteiras, sendo a segunda a responsável por ensinar a primeira a aproveitar a vida sozinha.

“Como a divertida amiga gorda, era trabalho de Robin (Rebel Williams) introduzir à magra e neutra Alice (Dakota Johnson) as esquisitices mundanas da bebedeira e do sexo casual”, escreveu Sesali Bowen no Oxygen. “O público nunca vê Robin negociar seu relacionamento consigo mesma, seus parceiros sexuais ou qualquer pessoa. Em muitas cenas, Robin introduz as outras personagens a um pouco de problema e então simplesmente desaparece.”

Ou seja, ela está ali para fazer as pessoas rirem, mas não para ser levada a sério. E esse é um problema em muitas séries, novelas e filmes, nos quais também não vemos essas pessoas tendo relacionamentos ou em papéis com mais profundidade. Por vezes, principalmente mulheres gordas, são vistas como seres assexuais ou desesperadas por sexo. São dois extremos prejudiciais e que não condizem com a realidade: pessoas gordas podem ter em comum o fato de pesarem mais, mas assim como qualquer ser humano, elas são diversas. E a mídia precisa entender isso.

Gordos estão sempre infelizes com seus corpos

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Outro representação sobre pessoas gordas que precisa sumir é de que elas estão sempre tentando perder peso, como se fosse impossível ser feliz com seus corpos. Mas acontece que dá sim e é perfeitamente okay viver bem como você é.

Não existe só um jeito de ser feliz: cada um acha sua própria maneira para tal, mas é preciso reforçar que magreza não é sinônimo de felicidade, tampouco de vida saudável, como já foi dito anteriormente. E mais uma vez: ao retratarmos pessoas gordas como pessoas infelizes, estamos reforçando todo um sistema que incentiva a discriminação desses indivíduos e, ainda, empurrando muitos outros a desenvolver algum tipo de transtorno alimentar e de imagem.

É por meio da mídia que temos contato com diferentes formas de enxergar o “outro”. E quando ela falha em representar alguém adequadamente, todos saímos perdendo.

*Por Artur Francischi, do Prosa Livre


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