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Confira a análise da nova música do Green Day, ‘Back In The USA’


Na semana passada o Green Day lançou a coletânea Greatest Hits: God’s Favorite Band, reunindo 21 grandes clássicos do trio ao longo de seus 30 anos de carreira e, ainda, a canção inédita ‘Back In The USA’, cuja letra é endereçada ao patriotismo cego e ao sonho americano. Trazemos para vocês a tradução e análise da letra, em matéria escrita por Camila Fraiz.

Vamos à letra e tradução:

Back In The USA / De volta aos EUA

I woke up to a bitter storm / Acordei durante um amarga tempestade
And Noah’s Ark came washed up on the shore / Com a Arca de Noé surgindo à beira-mar
The riot gear has lined the dawn / A parafernália anti-motim delineou o amanhecer
Like dogs that shit on your neighbor’s lawn / Como cachorros que cagam no gramado do vizinho

Let freedom ring with all the crazies on parade / Deixe que a liberdade ressoe com os doidos no desfile
Let them eat poison and it tastes like lemonade / Deixem que comam o veneno com gosto de limonada

Back in the USA for a small town serenade / De volta aos EUA para uma serenata interiorana
With fireworks on display / Com direito a fogos de artifício
Tonight, it’s a hero’s welcome home / Nesta noite, as boas vindas ao herói
And there’s no place else to go / E não há outro lugar para onde ir
And I’m takin’ it to the grave / E isso levarei para o túmulo
Back in the USA / De volta aos EUA

The saddest story ever told / A estória mais triste já contada
Is feeling safe in our suburban homes / Aquela de sentirmo-nos seguros em nossos lares suburbanos
Like soldiers of an endless war / Como soldados de uma guerra infinita
And every church can have a liquor store / Todas as igrejas podem ter suas lojas de bebidas

Confira agora a análise de cada verso:

A música conta a história de um soldado voltando para casa depois da guerra.

Acordei durante uma amarga tempestade
Com a Arca de Noé surgindo à beira-mar
A parafernália anti-motim delineou o amanhecer
Como cachorros que cagam no gramado do vizinho

Conhecem o filme “O Resgate do Soldado Ryan”? Ou já ouviram falar no Dia D? Essa é uma imagem importante aqui. Imagem esta de soldados chegando a uma praia. Neste caso, ao invés de estarem indo pra guerra, os soldados estão voltando pra casa. Apesar de atualmente o retorno dos soldados ser feito com um avião militar. Porém, é crucial o uso do Gênesis aqui. De acordo com o livro sagrado, Noé é uma história de perseverança e fé. Ao contrário do eu lírico que volta ao seu país com um sentimento de derrota e desilusão, ilustrado pela imagem dos cachorros defecando. Vale ressaltar também que usar símbolos bíblicos reflete o fervor cristão que está rolando por conta não só do presidente, mas também de Mike Pence – o vice – que é um evangélico fanático.

Reflitam: EUA sofreram com o 11 de Setembro durante o mandato do Bush Filho. Obama trouxe uma certa tranquilidade apesar do país ter passado por uma crise econômica. Daí, quando pensavam que essa estabilidade poderia continuar, todos estão de volta aos EUA sob o comando de Trump. Essa é a forma mais plausível para explicar o que acontece nesta parte da música.

Deixe que a liberdade ressoe com os malucos no desfile
Deixem que comam o veneno com gosto de limonada

Minha parte favorita da letra. Primeiro porque ‘Macy’s Day Parade’, o desfile dos mortos-vivos serve de paralelo ao desfile dos malucos. Segundo, o uso da limonada na letra reforça o gosto amargo da tempestade e de tudo o que aconteceu com o soldado.

Esse verso deixa bem claro que não há o que fazer quando as pessoas estão cegas ao ponto de aceitar tudo o que lhes é dito. Essa parte se refere ao patriotismo exacerbado dos americanos que acreditam em tudo que o presidente fala, como por exemplo que o aquecimento global não é verdade. Sem contar o suporte indireto aos brancos supremacistas. O eu lírico reconhece que existe um problema e sabe que faz parte dele. Afinal, ele escolheu fazer parte do exército. É daí que vem o gosto amargo.

Os desfiles a que ele se refere são aqueles em homenagens aos veteramos. “Parade” aqui representa também todas as comemorações daqueles que servem o país. E o exemplo desta celebração surge no refrão:

De volta aos EUA para uma serenata caipira
Com direito a fogos de artifício
Nesta noite, as boas vindas ao herói
E não há outro lugar para onde ir
E isso levarei para o túmulo
De volta aos EUA

Esse é o segundo evento na música. Aqui os soldados já estão de volta em suas cidades.

Nesta parte aqui, o eu lírico fala de como é recebido como herói em sua pequena cidade. Ele, porém, continua perdido tanto por estar de volta a um lugar que já não é tão familiar e por tudo de horrendo que viu por onde esteve. E de fato isso é algo que fica com a pessoa até o final de seus dias. Para a cidade ele é um herói, mas as pessoas jamais saberão que ele já não é mais o mesmo e que ele não se vê como herói. Aquela velha história, todos acham que estar numa guerra é um ato heroico, mas o que ficam pra trás não sabem a experiência horrível que é.

A estória mais triste já contada
Aquela de sentirmo-nos seguros em nossos lares suburbanos
Como soldados de uma guerra infinita
Todas as igrejas podem ter suas lojas de bebidas

Bem pertinente este verso. As pessoas acreditam estar segurar em casa quando elas convivem com o fato de todos terem acesso fácil à armas e bebidas. Cidades do interior são repletas de igrejas, lojas de armas de fogo e de bebidas. Portanto, as oportunidades para que tragédias sejam causadas são grandes. Maiores ainda se aqueles que voltam de uma guerra sofrem com depressão e estresse pós-traumático. O número de suicídios e tiroteios por parte de veteranos nos EUA é grande.

Essa música parece lidar com o fato de que os EUA continuam alimentando guerras e se esquecem das consequências quando os soldados voltam para casa. Fazem celebrações e reverenciam aqueles que servem seu país, porém não fornecem a reabilitação e a assistência necessária para estes “heróis”.

Junto com a música foi lançado um vídeo clipe, confira abaixo.

Texto por Camila Fraiz, Green Day Brasil


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