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O que as estrelas de Hollywood pensam sobre a falta de diversidade do Oscar?


O Oscar é amanhã, e corre o risco de ser ofuscado pela falta de diversidade na premiação. Mas o que as grandes estrelas de Hollywood acham disso?

A anual entrega do Oscar, considerado o prêmio máximo do cinema, acontece amanhã (28), comandada pelo comediante Chris Rock. E é possível que a noite de glamour das estrelas de Hollywood seja ofuscada pelas críticas recebidas pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pela escolha dos indicados à estatueta dourada, a qual, pelo segundo ano consecutivo, deixou de fora artistas negros – e artistas de outras etnias – nas categorias de atuação, o que levou à volta da hashtag #OscarsSoWhite, uma forma de protesto ao racismo da organização.

Após a lista dos indicados ao prêmio sair, a presidente da Academia, Cheryl Boone Isaacs, disse ter ficado decepcionada e prometeu medidas para diversificar o corpo de membros da instituição que representa, já que, segundo um estudo do jornal Los Angeles Times, os integrantes do Oscar são 94% brancos,  77% homens e possuem uma idade média de 62 anos. Para reverter o quadro, Isaacs anunciou as primeiras mudanças: a filiação não será mais vitalícia e o membro que não trabalhar na indústria cinematográfica nos últimos 10 anos perderá o direito ao voto. O objetivo é dobrar o número de mulheres e demais minorias até 2020.

Vale acrescentar que a diversidade não é um problema específico do Oscar. Hollywood como um todo precisa se diversificar, na frente e atrás das câmeras. Vários estudos comprovam a baixa representação de mulheres, minorias étnicas e LGBTs nos filmes e séries que assistimos. É como se a indústria do entretenimento apagasse as minorias, tirando-lhes o direito à humanização, permitindo apenas serem vistas quando forem estereotipadas ou o motivo do riso.

Por isso, tão importante quanto as nossas críticas, são as críticas de quem está dentro desse meio. Desde que foram anunciados os indicados ao Oscar – e até bem antes disso -, vários artistas têm usado suas vozes para reclamar da falta de diversidade da premiação e de Hollywood.

Eis o que eles estão dizendo:

Spike Lee

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Em 2015, o diretor Spike Lee foi homenageado pela Academia do Oscar e criticou a falta de diversidade no cinema, em especial, entre aqueles que tomam as decisões em Hollywood.

“Provavelmente todo mundo aqui votou no Obama, mas quando vou aos escritórios, eu não vejo negros, exceto aquele irmão que fica na segurança e checa meu nome na lista quando vou a um estúdio.”

Após ser divulgada a lista dos indicados ao Oscar, o cineasta anunciou que boicotaria a premiação deste ano.

“Como é possível, pelo segundo ano consecutivo, todos os 20 indicados na categoria de atuação serem todos brancos?”, escreveu ele em seu Instagram.

Jada Pinkett Smith

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Decisão semelhante teve Jada Pinkett Smith: através de um vídeo postado no Facebook, a atriz avisou que também boicotaria o Oscar.

“Eu faço a pergunta: será a hora das pessoas de cor reconhecerem quanto poder e influência nós acumulamos, de forma que nós não precisamos ser convidados para qualquer lugar? Eu pergunto: chegamos agora a um novo tempo e lugar em que reconhecemos que não precisamos mais implorar pelo amor, reconhecimento e respeito de algum grupo?”

Will Smith

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Will Smith, marido de Jada, se juntou a ela no boicote. Segundo o ator, a decisão foi tomada após ouvir as palavras da esposa.

“Há uma posição que nós temos nessa comunidade e, se não somos parte da solução, somos parte do problema”, disse Smith. “Foi o chamado dela para agir, para ela, para mim e para nossa família ser parte da solução.”

O artista pediu ainda a ação de todos na construção de uma indústria cinematográfica com oportunidades iguais para todos.

“Os indicados refletem a Academia. A Academia reflete a indústria [Hollywood] e então a indústria reflete os Estados Unidos. Há um deslize regressivo em direção ao separatismo, à desarmonia racial e religiosa e esta não é a Hollywood que eu pretendo deixar para trás. Estamos todos nisso juntos. Temos que perceber e temos que consertar isso.”

Viola Davis

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Viola Davis também deu sua opinião sobre a diversidade do Oscar, lembrando que a questão é muito maior do que a Academia.

“O problema está no sistema de se fazer filme em Hollywood. Quantos filmes de negros estão sendo produzidos anualmente? Como eles são distribuídos? Os filmes que estão sendo feitos, estão com times de produtores pensando ‘fora da caixa’ em termos de como escolher o elenco? Você pode escolher uma mulher negra para aquele papel? Você pode escolher um negro para aquele papel?”

No SAG Awards deste ano, do qual saiu premiada, a atriz veterana disse que é preciso que o público apoie produções diversificadas.

“Pegue seu dinheiro para ver raça, para ver ‘Straight Outta Compton’, ‘Selma’, apoie diretores como Ava DuVernay, Lee Daniels, Spike Lee… Essas histórias são tão válidas e importantes quanto todas as outras.”

Mark Ruffalo

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Indicado ao Oscar deste ano por seu papel em “Spotlight: Segredos Revelados”, o ator Mark Ruffalo talvez não compareça à premiação.

“Não é só o prêmio da Academia. Todo o sistema americano está repleto de um tipo de racismo de privilégio branco que entra em nosso sistema de justiça”, contou o americano à BBC News. “Eu estou ponderando. Eu acordo de manhã pensando: o que é a coisa certa a fazer? Porque, se você olhar para o legado do Martin Luther King, o que ele diz é que as pessoas boas que não agem são muito piores do que as pessoas, os malfeitores que não estão agindo de propósito e não sabe qual é o caminho certo.”

Sylvester Stallone

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Sylvester Stallone também está indicado neste ano por sua atuação em “Creed – Nascido Para Lutar”. O ator contou em uma coletiva de imprensa que pensou em boicotar o Oscar, mas foi convencido pelo diretor de seu filme, Ryan Coogler, a comparecer ao evento.

“Eu disse [a Ryan Coogler]: ‘se você quiser que eu vá, eu vou, se você não quiser, eu não vou.’ Ele disse: ‘não, eu quero que você vá. Vá e represente o filme. Nós sentimos que você merece. As coisas vão mudar eventualmente.'”

Rooney Mara

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Rooney Mara é outra indicada ao Oscar deste ano. A atriz concorre na categoria ‘Coadjuvante’ e foi perguntada sobre o #OscarsSoWhite. Além de considerar essa conversa sobre diversidade importante, ela chamou a atenção para outro tópico importante: a diversidade de sexualidades, já que seu filme, “Carol”, é centrado no relacionamento entre duas mulheres.

“Eu li um artigo no New York Times ontem e eles falavam sobre o assunto e sobre “Carol”. Eles disseram que deveria existir a hashtag #OscarsSoStraight (“Oscar Muito Hétero”).”

Charlotte Rampling

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A indicada ao Oscar de ‘Melhor Atriz’, Charlotte Rampling, não vê com bons olhos o boicote à premiação.

“Isso é racismo contra os brancos. É difícil saber se é o caso, mas pode ser que os atores negros não merecessem estar na reta final”, declarou ela em entrevista a um canal francês. “Por que classificar as pessoas? Vivemos em países onde somos mais ou menos aceitos… Mas sempre haverá problemas e [gente que diga] ‘ele é menos bonito’, ‘ele é negro demais’, ‘o outro é branco demais’… Por isso é preciso criar milhares de pequenas minorias em todo canto?”

Após as reações negativas, Charlotte desculpou-se dizendo:

“Sinto muito que meus comentários tenham sido mal-interpretados. Eu queria dizer que, num mundo ideal, a cada performance seria dada oportunidades iguais para consideração.”

Michael Caine

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Michael Caine, que já ganhou um Oscar em sua carreira, acredita que os negros precisam ser pacientes.

“Há grande quantidade de atores negros. Você não pode votar em um ator só porque ele é negro. Você não pode simplesmente dizer: ‘Oh, eu vou votar nele, ele não é muito bom, mas ele é negro’. Você tem que ter um bom desempenho. É claro que ele [o Oscar] virá”, disse o ator à BBC.

David Oyelowo

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David Oyelowo, conhecido por seu papel em “Selma”, onde interpretou Martin Luther King Jr, comentou a falta de diversidade no Oscar deste ano durante o King Legacy Awards:

“Perder a oportunidade de celebrar 20 atores negros num ano é uma coisa; isso acontecer de novo é imperdoável”, declarou. “A Academia tem um problema que precisa ser solucionado. […] A instituição não reflete sua presidente [uma mulher negra] e não reflete esse evento. Eu sou um membro da Academia e ela não me reflete, tampouco reflete a nação.”

Cuba Gooding Jr.

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Cuba Gooding Jr, que levou um Oscar em 1997 por sua atuação em “Jerry Maguire – A Grande Virada”, acredita que toda a discussão acerca do #OscarsSoWhite “fará as pessoas pensarem mais quando as indicações saírem no próximo ano.”.

“Eu queria que [o Oscar] fosse diversificado. Você quer que o trabalho seja mostrado”, ele contou à revista Variety.

O ator acredita que mais diversidade dentro da Academia é uma forma de mudar a forma como as indicações ao prêmio são feitas.

“Acho que, quanto mais membros de outras etnias forem colocados lá dentro, as minorias, quanto mais, melhor.”

Ice Cube

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O rapper Ice Cube, que produziu o filme “Straight Outta Compton – A História do NWA”, não ficou chateado pelo longa não ter recebido mais indicações, além de “Melhor Roteiro Original” (vale lembrar: o roteiro foi escrito por Jonathan Herman e Andrea Berloff, duas pessoas brancas).

“Eu não estou bravo e não estou surpreso. É o Oscar, eles fazem o que fazem. As pessoas adoraram o filme, elas apoiaram o filme. Ele foi número 1 de bilheteria, mais de US$ 200 milhões no mundo todo, sabe? Não posso ficar bravo.”.

“É legal ter reconhecimento, mas o N.W.A. era contra o sistema, então nós estamos acostumados com as pessoas tentarem diminuir o que temos a dizer”, ele contou à apresentadora Wendy Williams. “Estamos acostumados com a indústria nos rebaixando. Somos as ovelhas negras da indústria. Se não fossemos indicados, seria um território familiar.”

George Clooney

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George Clooney foi um dos poucos atores brancos a falar sobre as indicações ao Oscar deste ano:

“Há 10 anos, a Academia fazia um trabalho melhor. Havia mais afro-americanos indicados. Mas o problema não é quem são os indicados, mas quantas opções há disponíveis no cinema para as minorias, particularmente em filmes de qualidade”, contou o astro à revista Variety. “Os artistas negros têm um ponto de reivindicação justo quando alegam que a indústria não está os representando de forma adequada. Acredito que isso é absolutamente certo.”

Whoopi Goldberg

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No programa em que apresenta, o “The View”, Whoopi Goldberg aproveitou para falar sobre as indicações ao Oscar e discorda do boicote de Spike Lee e Jada Pinkett Smith. Para ela, o problema é outro.

“O problema não é as pessoas indicadas serem muito brancas. Eles [membros da Academia] não estão olhando um filme e dizendo: ‘este é muito branco. Não vou indicar aquele filme de negro.’ Eles não estão pensando assim”, disse a atriz, que já ganhou um Oscar. “O problema é que, as pessoas que podem ajudar a fazer filmes que possuem negros, latinos e mulher e todos eles – esses filmes não chegam a você. Porque há uma ideia de que não há espaço para filmes com negros.”.

Whoopi sugeriu ainda que as pessoas boicotem os filmes que não as representem.

“Esse é o boicote que você quer. Para mim, nós temos essa conversa todo ano. Isso me deixa nervosa.”

Janet Hubert

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Janet Hubert, a eterna tia Vivian de “Um Maluco no Pedaço”, também discorda do boicote ao Oscar, e gravou um vídeo sobre o assunto, como uma resposta a Jada Pinkett Smith.

“Amiga, há tanta merda acontecendo no mundo que vocês todos parecem não reconhecer. As pessoas estão morrendo, nossos meninos estão sendo mortos. As pessoas estão com fome. E você falando sobre alguns atores?”

Janet acredita que pedir a atores e atrizes negros para que boicotem o Oscar pode ser prejudicial às suas carreiras, uma vez que não há tantos papéis disponíveis para eles.

“E eu acho irônico que alguém que fez milhões de dólares em cima das mesmas pessoas que você, esteja pedindo para boicotar [o Oscar] só porque não foi indicado, porque não venceu.”

Lupita Nyong’o

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Lupita Nyong’o usou seu Instagram para mostrar sua decepção com as indicações ao Oscar 2016.

“Estou desapontada com a falta de inclusão nas indicações ao Oscar deste ano”, escreveu a atriz. “Isso me fez pensar no preconceito inconsciente e quais méritos são valorizados em nossa cultura. O Oscar não deveria ditar os termos da arte na nossa sociedade moderna, mas ser um reflexo diversificado do que nossa arte tem a oferecer hoje.”.

Por fim, a ganhadora do Oscar de 2014 afirmou que está ao lado dos colegas que “pedem por mudança na expansão de histórias que são contadas e reconhecimento das pessoas que as contam”.

Clint Eastwood

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Clint Eastwood foi mais um a responder uma pergunta sobre a diversidade do Oscar, mas evitou entrar na polêmica.

“Não sei nada sobre isso”, disse o ator e diretor. “Tudo o que eu sei é que há milhares de pessoas na Academia e a maioria nunca ganhou um Oscar. Muitas pessoas estão chorando, eu acredito.”.

Jamie Foxx

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Jamie Foxx, que já ganhou um Oscar em edições passadas, resolveu brincar com a situação.

“Toda essa conversa sobre o Oscar, eu nem perco tempo com isso. Quero dizer, o que tem de mais? Eu estava em casa com meu Oscar, pensando: ‘o que é tudo isso?'”, teria dito o ator.

Citando o ator Denzel Washington, que já levou o prêmio duas vezes, ele contou que ambos não estavam tão chateados com a situação, mas concluiu afirmando que é preciso mais oportunidades aos negros.

“Eu estava com o Sidney Poitier [primeiro negro a ganhar o Oscar de ‘Melhor Ator’] há algumas semanas e, em 1963, ele pediu uma oportunidade para atuar. Isso é tudo o que temos que ter: oportunidade. Se você ligar uma câmera e disser: ‘OK, ganhe um prêmio e… Ação!’, nós todos vamos regredir 10 passos. É sobre a arte. Quem liga para as outras coisas?”.

Ava DuVernay

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A diretora do filme “Selma” falou sobre diversidade com o jornal The New York Times.

“Estamos ouvindo muito sobre diversidade. Eu odeio demais essa palavra. Sinto que é uma palavra medicinal que não tem ressonância emocional e isso é uma questão emocional. É emocional para os artistas que são mulheres e pessoas de cor, que possuem menos valor na nossa visão de mundo. Esse é um problema de Hollywood.”.

Danny DeVito

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“É triste que o país todo seja racista”, disse o ator Danny DeVito à agência de notícias Associated Press.

“Esse é um exemplo que, embora muitas pessoas tenham feito grandes atuações nos filmes, elas nem foram consideradas. Vivemos num país que discrimina e possui certas tendências racistas. Então, às vezes isso se manifesta em coisas como essas [o Oscar], e tudo fica claro. Falando de maneira geral, nós todos somos racistas.”

Gina Rodriguez

NUVOtv/NCLR Comedy Night With John Leguizamo, Anjelah Johnson And Host Gina Rodriguez

A estrela do seriado “Jane The Virgin” acredita que a falta de diversidade entre os indicados ao Oscar é similar à falta de diversidade dos membros da Academia.

“Pessoalmente falando, estou tentando entender, sabendo muito bem que houve muitos filmes que deveriam ter sido indicados”, contou a atriz ao Entertainment Tonight. “Mas acho que você também precisa olhar para a diversidade dos integrantes do Oscar. Eles não são diversificados como a sociedade de hoje. Deveria haver mais filmes feitos com rostos diversificados.”

Recentemente, Gina pensou em uma iniciativa para destacar o trabalho de artistas latinos, também pouco reconhecidos em premiações, e pede para que o público apoie produções feitas por esses atores e atrizes.

“Se você quer nos ver representados no cinema ou na televisão, se você quer ver latinos indicados ao Oscar, nós PRECISAMOS apoiar uns aos outros.”

Tessa Thompson

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“Nós não fazemos filmes para ganhar elogios. É muito legal quando seus colegas e seu grupo são reconhecidos”, disse Tessa Thompson, atriz de “Creed”, ao Entertainment Tonight. “Estamos felizes pelo Sylvester Stallone. Acho que ele fez a performance de sua carreira e estamos felizes de vê-lo ser reconhecido. [A falta de indicados negros] É algo complicado. Estou muito feliz com a invenção da hashtag #OscarsSoWhite e sobre a conversa sobre o boicote que fez com que a Academia começasse a pensar em fazer algo sobre seus membros. Se queremos diversidade nas indicações, precisamos de diversidade entre as pessoas que estão votando. E isso é absolutamente verdade. Espero ver alguma mudança no ano que vem.”.

*Por Artur Francischi do Prosa Livre


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