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Preste atenção na lua, preste atenção no novo álbum incrível do Milky Chance – “Mind The Moon”


O Milky Chance acaba de lançar seu novo disco, e o resultado você pode conferir aqui na nossa review

 

Existe um famoso ditado popular que diz que “um raio não cai três vezes no mesmo lugar”. Enquanto muita gente concorda com a frase, o Milky Chance a desafia, e mostra é possível que ele caia sim no mesmo lugar, sendo cada impacto com a terra mais estrondoso que o anterior.

Milky Chance é uma dupla alemã, que começou sua carreira musical sem grandes pretensões, apenas para se divertir; e encontrou com um de seus primeiros singles, ‘Stolen Dance’, grande sucesso. Sucesso esse tão grande que o videoclipe oficial da faixa já acumula mais de 500 milhões de visualizações, só no YouTube.

A dupla já tem dois discos lançados: ‘Sadnecessary’ (2013) e ‘Blossom’ (2017). Agora, eles trazem ao mesmo lugar seu terceiro raio, ou melhor, álbum, chamado “Mind The Moon”. Composto de 12 faixas, uma impressionantemente melhor que a outra, ‘Mind The Moon’ parece um sonho: é impossível acreditar que um disco tão bom seja real e esteja entre nós.

“Mind The Moon” começa com ‘Fado’, faixa eletrônica e agitada desde a primeira nota, que mostra toda a vontade do duo de se consagrar como um dos principais representantes do folk-eletrônico. Apesar de ter seu nome inspirado no tradicional gênero musical português, o elemento mais próximo de um fado que temos nesta música é sua letra, que é um pouco melancólica, e nos relembra os clássicos fados portugueses em trechos como “E se os pássaros não cantarem mais?”.

Apesar disso, a faixa se destaca no álbum e é possivelmente a melhor dele: Nada de deixar o melhor para depois! A expectativa que o ouvinte pode ter e será frustrada, é a de ouvir algum trecho em português na canção.

Depois de ouvir ‘Fado’, uma música tão energética e complexa do ponto de vista instrumental, o ouvinte pode pensar “Tudo bem, essa foi incrível, mas não tem como as próximas serem tão boas quanto”. É aí que ele vai se enganar, porque tem sim! Em seguida, vem a reflexiva ‘Oh Mama’, que segundo a dupla é sobre “o momento em que você começa a perceber que desistir [de um relacionamento] teria sido mais fácil”. Em ‘Oh Mama’ você não apenas ouve, você sente a letra.

A progressão do disco caminha por um trajeto que muitos álbuns têm enveredado ultimamente, começando bem agitado e terminando de forma mais tranquila. ‘Mind The Moon’ aborda a liberdade, a busca dela, relacionamentos, os sonhos, e a melancolia da dura realidade; algumas músicas permitem ao ouvinte voar, ao mesmo tempo em que mantém os pés no chão, como a revigorante ‘Rush’, outra faixa que se destaca no álbum.

‘Rush’ começa melancólica, acompanhando a letra “Eu tenho andado em círculos com o luar / com a luz da lua ao redor”, até que chega o refrão, onde o ouvinte recebe uma injeção de ânimo. A canção faz uma reviravolta melódica completa e é uma das faixas mais cativantes do disco, justamente pelas mudanças instrumentais inesperadas.

Outro fator que torna a música muito interessante é a participação especial do cantor belga-congolês Témé Tan nela. Além de trazer elementos da música tradicional congolesa para a canção, Témé adiciona vocais primorosos e trechos em francês, que dão todo um charme à faixa.

Como é de se esperar pelo nome do disco (que, em tradução livre, seria algo como “Preste Atenção na Lua”), a lua é um elemento bastante presente no álbum, sendo mencionada em quase todas as músicas, e servindo como um elo, que entrelaça toda a narrativa. A menção constante da lua reforça os temas centrais do álbum, mencionados anteriormente, e permite que o Milky Chance fale de forma inteligente e criativa sobre eles.

Outras duas faixas que se destacam são ‘The Game’ e ‘Long Run’, ambas com estilos semelhantes, utilizando ritmos nunca visto antes em músicas do Milky Chance, como o reggae, e extremamente cativantes. ‘Long Run’, inclusive, tem alguns elementos que lembram um pouco a banda virtual Gorillaz.

Em seguida vem ‘Daydreaming’ que, segundo a banda, é sobre liberdade de pensamento. O single faz o ouvinte viajar em suas ondas, dando a impressão de que a dupla prezou tanto por essa “liberdade”, que fez deste seu single mais experimental, a fim de que o ouvinte tivesse bastante material sonoro para formar sua própria opinião sobre a música. A presença da cantora malto-australiana Tash Sultana também é muito bem-vinda na música, conferindo-lhe mais profundidade e personalidade com sua voz encantadora.

Um aspecto que o Milky Chance parece ter acertado bastante foi na escolha das parcerias que utilizou no álbum. A terceira colaboração presente nele, com Ladysmith Black Mambazo, na faixa ‘Eden’s House’, traz todo um elemento orgânico e natural, que complementa e enriquece a letra da faixa. A preocupação com os vocais também é maior nessa música, fato que é evidenciado pela importância e espaço que o coral tem na melodia, os instrumentos são mais baixos e as belas vozes do Ladysmith Black Mambazo, bem como a de Clemens Rehbein (vocalista do Milky Chance) se sobressaltam.

É difícil encontrar falhas neste álbum, que claramente foi tão bem pensado: para agradar os fãs antigos e para atrair novos ouvintes, com faixas que utilizam o folkatronica característico da banda, ao mesmo tempo em que incorporam elementos e instrumentos inusitados. Podemos dizer que as faixas ‘Fallen’ e ‘Scarlet Paintings’ não tiveram muito destaque no álbum; não por falta de qualidade, mas por estarem na sombra de faixas excelentes como “Right From Here” e “We Didn’t Make It To The Moon”.

O final dessa odisseia musical que é o “Mind The Moon” não poderia ser melhor representado do que com a canção ‘Window’. ‘Window’, principalmente durante seu minuto final, nos dá a sensação de que sonhamos durante todo o álbum e que agora precisamos acordar e colocar em prática tudo o que foi aprendemos nele.

Com um álbum que é, sem dúvidas, o melhor da carreira do Milky Chance, o duo alemão mostra mais maturidade e uma complexidade progressiva em seu som, que já podia ser sentida em ‘Blossom’, e que finaliza seu amadurecimento agora em “Mind The Moon”. Com arranjos cheios de layers e letras poderosas, a dupla se estabelece como uma das referências na música alternativa e deixa todos ansiosos por seus próximos trabalhos.

“Mind The Moon” é uma experiência sensorial completa, para ouvir, sentir, olhar (graças aos vídeos que a banda tem postado em suas redes sociais) e, por que não, sonhar. Acima de tudo, o disco é o cumprimento da promessa que a banda fez há 6 anos, com o single ‘Stolen Dance’, de que seria uma das melhores bandas alemãs de todos os tempos.

Nota: 5 de 5

Por Andressa Gonçalves do Indieoclock


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